O intervalo que é a vida

Como é que se dá os sentimentos a uma amiga, uma das tuas melhores amigas, pela mãe que morreu? 

Não dá. 

Detesto a palavra "pêsames", acho que só a própria palavra ainda deve deixar o ambiente pior. Se é que é possível, numa situação destas. É-me mesmo difícil dizê-la. 

A palavra sentimentos raramente me sai, e quando sai é quase que por um atropelamento de palavras. Não gosto. Não sei se pela "obrigação social" de termos de o dizer. Ou se pelo facto de isso não ir aliviar em nada - rigorosamente nada - a dor de quem está a senti-la em primeira mão. 

Acho que os verdadeiros sentimentos, esses sim, demonstram-se e vêem-se no apoio que damos, no estarmos presentes. Acima de tudo isso, a nossa presença e apoio incondicional. E no espaço que teremos de saber dar e respeitar. Na compreensão. 

Ainda para mais sendo a pessoa que é, para mim, mãe é um assunto muito delicado. Se numa situação normal já é sempre difícil, quando são pais, filhos ou irmãos, etc. Sei lá. Há dores e dores

E esta é uma que não consigo sequer, tentar imaginar, de tamanha dor que é. Talvez a pior e mais dolorosa. Talvez não,
De certeza. Com toda a certeza. Talvez só comparável com a morte de um filho. 

E a vida é isto mesmo. 

Dói dolorosamente que assim seja. Num espaço de uma semana, de dias, de horas - tudo muda. Culpa nossa ou não? Poderíamos ter feito algo? Não podíamos? Ninguém sabe. Já não há volta a dar. 

Acho que é por isso que todos temos medo de morrer. É o facto de ser, talvez, a única certeza que temos na vida. Que nascemos para morrer, sorte e saber de quem pode e aproveita, de facto, o intervalo. Esse intervalo que é a vida, e a qual, tantas e tantas vezes desvalorizamos, desde as mais pequenas coisas. 

A vida não são três dias. Às vezes acaba num segundo. E o nosso mundo desaba, dá voltas que numa imaginamos. Saímos da nossa zona de conforto. E é aqui, infelizmente, é apenas nestes momentos que descobrimos o quão fortes somos é o quanto física e emocionalmente aguentamos a dor. 

E esta para mim é a dor. A dor inimaginável. 

Esta porra de vida. Estas doenças que nos levam os que mais amamos.

Graças a Deus, ainda não sei o que é perder um dos que mais amo. Nem os que mais amo. Não gosto de falar nestas coisas, não há-de Ele ouvir-nos. E, por vezes, imagino o chão a perder-se quando isso me acontecer. 


Tenho sim, todos os meus sentimentos e pensamentos, com ela hoje. Com a minha amiga. Não preciso de lho dizer. Basta estar presente. E isso, certamente estarei. 

Com amor, dor sentida e lágrimas,

Que pelo menos ela esteja num lugar melhor. Agora tens de reunir todas as forças, toda a força deste mundo. Vai demorar, muito. Imagino que toda uma vida. Mas com o tempo, acredito que a dor alivia. Há que recordar os momentos bons, os sorrisos, os momentos felizes. Recordar, recordar e recordar. E tentar o coração aliviar. 

Toda a força do mundo. ❤️