Quem está ali, retratada por Audrey Tautou, não é a poderosa estilista. Mas sim, a pobre órfã de família humilde, que costura de dia e canta em cabarés de noite.
É nesse meio tempo que Gabrielle - o seu nome real - tem os seus primeiros (de muitos) romances poderosos e ganha o seu acesso à alta roda parisiense.
Primeiro através de Étienne Balsan, com quem constrói uma relação esquisita de submissão às avessas.
Em seguida vem "Boy" Capel, amigo de Balsan, que se torna o grande amor da sua vida e ajuda Chanel a transformar o seu hobby de criação de chapéus no início da maison que conhecemos hoje.
A roupa, como é de se esperar, é bem cuidada e dá o tom subtil na evolução de pensamento da personagem. Com uma excelente caracterização de Tautou, que consegue reproduzir a cara quase sempre desconfiada e rezingona de Chanel, com o cigarro na boca caída.
Gabrielle "Coco" Chanel, interpretada pela adorável Audrey Tatou de "Amelie Poulain" não foi uma mulher agradável e simpática. Ela era mau humorada e cheia de vontades - mesmo aos 20 anos de idade.
Começando com um pequeno olhar à infância de Chanel num orfanato, o filme da diretora francesa Anne Fontaine passa pelas fases variadas da vida da estilista: primeiro como cantora de cabaret, depois como costureira e o começo da sua carreira de criar chapéus para as atrizes de Paris. O que nos dá uma visão bastante clara do que inspirou a mulher que mais influenciou a história da moda.
Quando ela resolve cortar a camisa do seu amante, o barão Etienne Balsan, e a costurar no seu vestido, dá-nos uma ideia do seu espírito e de tudo aquilo que advinha daí. Quando ela tira o espartilho do vestido para dançar melhor no palco. E quando usa as calças e gravatas de Etienne para andar de cavalo, tudo exemplos daquela que viria a ser, talvez a maior ou melhor história da moda.
O especial do filme não é descobrir novas coisas a respeito de Chanel, mas sim ver o rosto dela brilhar e saber que a cabecinha dela cheia de ideias, seja ao notar a simples beleza dos sweaters às riscas dos pescadores numa viagem a Deauville, ou descobrir que o preto e branco que as freiras no seu orfanato usavam pode ser uma combinação revolucionária e chique.
Num mundo cheio de excessos e falsidades, Chanel consegue ser uma realista, sabendo que a simplicidade até numa roupa, marca mais do que mostrar-se com plumas, cintas e joias - moda na época.
Chanel encontra a sua alma gémea na forma de um businessman inglês chamado Arthur "Boy" Capel. E a mulher que no começo do filme diz não poder ser convertida à causa do amor, descobre que na verdade, a sua raiva precisava de um foco para a paixão.
Capel foi não só um grande amor na vida de Chanel, como também investiu na sua primeira loja de chapéus em Paris e, como tudo no mundo de Chanel, serviu de inspiração para a estilista. Ela usava as suas camisas e também usou o corte dos blazers dele como modelo para os casaquinhos curtos e quadrados do seu tailleur famoso.
Tudo o que a fez uma visionária no mundo da moda feminina veio diretamente da infância humilde que viveu e das suas inseguranças como uma menina pobre acompanhando o seu amante a festas e corridas de cavalo.
Disso nasceu uma das mulheres mais poderosas que o mundo já viu, uma mulher que criou o seu próprio império numa época em que as mulheres não tinham essa independência. Ela criou uma moda, naquilo que a moda é hoje.
Resumindo e baralhando: não sei se gostam de biografias, mas esta penso que está fiel à verdadeira história, e o que é facto é que nos prende de todo ao ecrã. Eu adorei e recomendo. :)