Fernando Pessoa foi - e tenho cá para mim, que sempre será - o meu poeta e escritor português preferido, de sempre. Identificando-me melhor, naturalmente, com um heterónimo, mais do que com outro, perdia óptimas horas, sem me cansar, a ler Pessoa. E é engraçado como, ainda hoje, ele é tão intemporal. E como a ele vamos, tantas e tantas vezes, buscar inspiração para caracterizar momentos da nossa vida. Hoje apeteceu-me partilhar com vocês, um dos seus poemas mais bonitos, para mim é claro. (Temos uma estreia portanto! Acho que nunca tinha partilhado poesia com vocês) E é tão real a forma como nos toca.
Espero que passem uns bons minutos a lê-lo, e que esse tempo precioso vos faça, acima de tudo pensar. Na importância da vida. Mas bem, deixo as palavras para ele:
A importância da vida
Usando o lado oposto
Deus costuma usar a solidão
Para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva,
Para que possamos compreender
O infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio,
Quando nos quer mostrar
A importância da vida e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio
Para nos ensinar
Sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes, usa o cansaço,
Para que possamos compreender
O valor do despertar.
Outras vezes usa a doença,
Quando nos quer mostrar
A importância da saúde.
Deus costuma usar fogo
Para nos ensinar
Sobre a água.
Às vezes, usa a terra,
Para que possamos compreender
O valor do ar.
Outras vezes usa a morte,
Quando nos quer mostrar
A importância da vida.
Fernando Pessoa